2 de fevereiro de 2010

Carlos Costa


QUANDO DORMEM AS FEITICEIRAS – (Carlos Costa)

No sul da França, velhos carvalhos destilam os crepúsculos de uma outrora vida por um enigma que vive no coração de muitos. Cantai, cantai com todo amor, recordai minhas aventuras e minhas alegrias, que coração pode ser mais intenso que um coração bruxo? Os lobos uivam, fendendo o tempo, a velhice e a solitude do verbo. Os sentidos bruxos mergulham na matéria esquecida e inculta, desnudando-a de sua capa desonesta. Doces vozes ciganas clamam por minhas feridas e uma certa saudade impura. É chegada a hora para o mistério que me inclina sobre a face do perdão e da fúria. Nada mais me vigia. O corpo me reconhece na sua pintura carnal uma trama de estrelas quando rodeado de pessoas nuas e pelo testemunho do sol vestal das fogueiras. Um único passo devolveria meu império de segredos e um punhado de flores maduras, mas preferi as janelas daquele olhar de centenas de luas e uma mulher que não seria única.

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